quinta-feira, 12 de julho de 2012

[Uma palavra, uma história] Combate

com.ba.te batalha; luta armada; luta contra obstáculos de qualquer natureza


    Arfava mais ruidosamente a cada passo que dava. Caminhar já se tornara um fardo deveras grandioso para si. A planície pela qual caminhava poderia não ter obstáculos naturais para sua caminhada, porém, mesmo assim, não podia desviar o olhar do chão. A quantia absurda de corpos espalhados por aquela extensão de terra, todos pintados de um carmim estarrecedor, era um cenário perfeito para tombos. E, tinha certeza, se caísse não levantava mais.
    Sentia o peso de mortes que foram tiradas por suas mãos. Ou melhor, por sua arma. Claro, não tantas quanto aqueles homens estirados agora no chão teriam tirado.
    O desespero que sentiu enquanto se escondia em um pequeno declive que encontrara naquele terreno, ouvindo gritos, explosões e contínuos sons de tiros ainda estava latente em sua mente, fazendo com que virasse a cabeça continuamente tentando achar algum inimigo invisível.
    Quando saíra de lá, encontrara o cenário perfeito de uma guerra: inúmeros corpos sem um mínimo resquício de batimento cardíaco no chão e apenas uma pessoa sentada, com as mãos na cabeça, aparentemente chorando. Encarara aquela pessoa por menos de um minuto, e, sem nem mesmo pensar direito, atirara. Ceifava mais uma vida durante aquela guerra.
    Agora, com uma perna sangrando devido a uma bala que se alojara na batata de sua perna direita, a visão já não funcionando como deveria, começava a se indagar por que estava ali. Os raios solares faziam a pouca água existente em seu corpo ir sumindo aos poucos, apenas piorando o quadro no qual se encontrava. Se não se cuidasse, morreria ou por falta de sangue ou de água. Se bem que a primeira opção estava parecendo a mais plausível naquele momento. E a mais digna para a situação.
    Cansado, tanto física quanto psicologicamente, desistiu, decidindo tornar-se apenas mais um dos inúmeros corpos naquele chão. Aquela guerra já estava perdida antes de começar. Para todos.
    Agora, olhando o céu azul, não ligando para a claridade intensa que provavelmente carbonizava sua retina, lembrava de como tudo começara. Um anúncio na TV, algum político idiota que decidira direcionar um míssil para uma cidadezinha do interior. "Isto foi apenas um aviso, ou acabam com as restrições econômicas para com meu país ou vocês estarão acabados". Então convocaram todos jovens e adultos, em quatro meses tivera que aprender todo tipo de treinamento de guerra. Então fora mandado para batalhas, vencera a primeira, e, mesmo apavorado e culpado, não pôde conter o alívio que trespassou sua alma naquele momento. Mesmo que, sabia, todas mortes que aconteceram naquele lugar não combinavam em nada com aquilo.
    E então viera parar ali. Desta vez, o inimigo tinha se preparado para o combate. Via seus companheiros tombarem ao seu lado, e foi nesse momento que decidiu fugir e se esconder.
    A pergunta que não queria deixar de perturbar sua mente era um questionamento simples, algo totalmente trivial na vastidão de complicamentos pelo mundo, uma mera preposição aliando-se a um pronome interrogativo: Por quê?
    Por que lutava? Para quem lutava? Por sua honra? Pela honra de seu país? De todas as respostas que passavam voando por sua cabeça, nenhuma parecia digna. E muito menos algo pelo qual valesse a pena morrer. Sequer lutar.
    Lembrava-se agora de todas aquelas aulas de História nas quais eram mencionadas tão variadas e numerosas guerras. Agora que estava em uma tudo parecia ganhar uma dimensão muito maior. Não tinha fim. Nem as guerras, nem a ganância humana, motivo de tudo aquilo. Tantos anos desperdiçados fazendo guerra, quando podiam estar fazendo algo produtivo. Não tinha fim...
    Porém, sua vida sim. E naquele momento soube que ela acabaria. Tentou gritar, porém nem falar conseguiu, sua garganta já estava seca demais. Entretanto, um murmúrio deixou seus lábios. E sua alma foi com ele:
  — Por quê..?
    E o manto da eterna escuridão fechou aqueles olhos.

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